No âmbito do Dia Mundial do AVC (29 de outubro), há que alertar para a importância de saberem identificar os sinais de alerta desta doença cerebrovascular, que afeta cerca 25 mil portugueses por ano, e de agir rapidamente, ligando para o 112 para ser ativada a Via Verde AVC pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). O AVC continua a ser a das principais causas de morte e de incapacidade em Portugal1, atingindo três pessoas por hora. Só em 2022, as doenças cerebrovasculares foram responsáveis por 9616 óbitos, o que representou 7,7% do total de óbitos no nosso país.3João Sargento Freitas, médico neurologista, explica que: “O AVC isquémico, que representa cerca de 80 a 85% dos casos anuais, ocorre quando há uma obstrução de uma artéria cerebral, geralmente causada por um coágulo sanguíneo (trombo) ou por aterosclerose (acumulação de placas de gordura). Esta obstrução impede o fluxo sanguíneo para uma área do cérebro, privando-a de oxigénio e nutrientes, o que resultar em danos neurológicos.” Nas primeiras horas após um AVC isquémico é emergente chegar ao hospital, para dois tratamentos principais: a trombólise endovenosa e a trombectomia mecânica, também conhecida como tratamento endovascular. A trombectomia mecânica é uma técnica minimamente invasiva, que utiliza um cateter para desobstruir mecanicamente a artéria afetada. O neurorradiologista Ricardo Veiga destaca que este tratamento “é extremamente eficaz e seguro, oferecendo uma maior taxa de revascularização, melhores resultados clínicos e uma janela de tratamento alargada até 24 horas, dependendo de alguns fatores.” Apesar das vantagens, nem todas os doentes com AVC são elegíveis para a trombectomia mecânica. “A decisão de realizar este procedimento é complexa e deve ser tomada por uma equipa médica, considerando cada caso individualmente”, acrescenta Bruno Rodrigues, médico neurologista.Depois do tratamento de fase aguda é essencial determinar o mecanismo exato que causou o AVC, sendo o período de internamento numa Unidade de AVC crítico para este objetivo, como realça o neurologista Bruno Rodrigues. As duas causas mais frequentes do AVC isquémico são as causas cardio-embólicas, que muitas vezes resultam de arritmias cardíacas, como a fibrilhação auricular (FA), e a formação de placas de aterosclerose (colesterol) nas artérias cerebrais ou próximas. O AVC pode também ser causado por doenças das pequenas artérias cerebrais, para as quais a hipertensão arterial é o principal fator de risco, como as malformações cardíacas, doenças do sangue e outras alterações sistémicas. O diagnóstico de algumas destas doenças nem sempre é fácil. A deteção precoce permite iniciar o tratamento com medicamentos anticoagulantes, prevenindo a formação de novos coágulos e reduzindo o risco de um novo AVC. Em alguns casos, a monitorização do ritmo cardíaco é fundamental, existindo atualmente dispositivos implantáveis de monitorização cardíaca de longa duração para detetar episódios assintomáticos de FA, com elevada acuidade diagnóstica. É fundamental consciencializar a população sobre os sinais de alerta. Relembramos a importância de estar atento aos 3F: Fala (dificuldade em falar), Face (assimetria facial vulgarmente denominado como ‘boca de lado’) e Força (perda de força num dos braços). Caso se manifeste um destes sintomas, deve ligar imediatamente para o 112, ativando assim a Via Verde AVC e diminuindo até 50% do risco de morte ou de incapacidade.