rádio região de basto

105.6fm - 93.1fm

uma rádio que vale por duas!

Procurar

Março 18, 2025

A primavera das Nações deu lugar ao inverno dos Povos

«Não mudarás os limites do teu vizinho, que os antigos demarcaram na herança que te couber na terra que o Senhor, teu Deus, te há de dar para dela tomares posse.» – Deuteronómio 19, 14«Amarás o estrangeiro, porque foste estrangeiro na terra do Egito.» – Deuteronómio 10, 19Os momentos históricos que vivemos são, na verdade, tempos de grandes incógnitas e incertezas. Segundo alguns líderes mundiais, recentemente eleitos, parece que o Direito Internacional, os Direitos Humanos, a Carta das Nações Unidas, a Convenção de Genebra, já nada valem ou são letra morta.Num abrir e fechar de olhos, voltamos aos tempos dos impérios, das conquistas e da lei do mais forte. São lançados ultimatos sobre as nações, elaboram-se acordos sem ouvir as partes interessadas e envolvidas, fazem-se ameaças de ocupação e até se tenta reescrever a História, rebatizando terras e mares.O mais surreal é que muitas destas investidas provêm de pessoas que, ao tomarem posse como presidentes, juram sobre as Sagradas Escrituras, invocam o nome de Deus a cada momento e até promovem orações antes das reuniões do seu governo.Desde a Segunda Guerra Mundial, o mundo livre e democrático tinha como segura a sacralidade das fronteiras estabelecidas, não havendo tolerância nem espaço para imperialismos e invasões pela força. O respeito pela autodeterminação dos povos e pela liberdade eram sagradas. Tudo isso parece ter acontecido num passado longínquo. A primavera das Nações deu lugar ao inverno dos Povos.O novo presidente americano, de maneira provocatória, ameaça ocupar o Canal do Panamá, anexar o Canadá como 51.º Estado norte-americano, transformar Gaza numa estância de turismo e comprar a Gronelândia à Dinamarca. Além de ousar rebatizar o Golfo do México como Golfo da América.Parece não ter limites, pois negoceia com os invasores russos e apelida de «ditador» o presidente da Ucrânia, país que só não teve eleições livres porque está em estado de guerra há três anos. Exige direitos comerciais e tributos para continuar a apoiar a causa dos justos.O vice-presidente americano, J. D. Vance, enquanto se afirma como católico e faz o sinal da cruz em público, permite que o seu presidente, Donald Trump, diga ao Papa para se preocupar apenas com a Igreja e deixar os americanos em paz e a decidir o que eles quiserem, da forma que entenderem.O Papa Francisco apesar de debilitado, nunca deixou de se preocupar com aqueles que sofrem o drama da guerra, da agressão e da discriminação devido à sua proveniência e pobreza, seja em Gaza, na Ucrânia ou nas fronteiras norte-americanas. É, na verdade, uma das poucas vozes que se levanta, com autoridade moral para denunciar as injustiças e pedir o respeito pela pessoa humana.Como dizia o Papa Leão XIII (1810-1903): “A audácia dos maus alimenta-se da covardia e da omissão dos bons”. Por isso, não podemos ficar calados, mesmo sabendo da pequenez e da humildade da nossa voz. Mas, assim como uma cigarra, numa noite de verão, quase não se ouve se estiver sozinha. Mas, se forem centenas ou milhares, o silêncio da noite será quebrado pela sinfonia do seu canto e todos as escutarão.Juntemos as nossas vozes, denunciemos aqueles que atiram a pedra e escondem a mão, apoiemos os mais fracos e desprotegidos, pois como diz o Salmo 34, 7: «Quando um pobre invoca o Senhor, Ele atende-o e liberta-o das suas angústias.» Sérgio Carvalho “Novos Tempos” por Sérgio Carvalho para ouvir na RRB todos os domingos pelas 10H.